Junho Vermelho: sangue doado a hospitais municipais de Campinas beneficia 4,5 mil pacientes por ano

Mais de 10,2 mil bolsas de sangue foram usadas em tratamentos, cirurgias e outros procedimentos de saúde nos hospitais da Rede Mário Gatti em 2024. Doações são essenciais para manter os estoques.

Que doar sangue salva vidas, já se sabe. Mas você conhece o caminho que os componentes sanguíneos percorrem até ajudar quem precisa de cirurgias e tratamentos de saúde nos hospitais?

Somente no ano passado, 4.589 pacientes foram beneficiados nos hospitais municipais de Campinas. O que significa que eles receberam algum ou vários tipos de componente do sangue, em um total de 10.213 bolsas transfundidas porque cada paciente pode receber mais de uma.

O sangue doado é usado em diversos setores do hospital, como enfermarias, pronto-socorro e centro cirúrgico. As cirurgias que mais utilizam transfusão são as ortopédicas de fêmur (mais frequentes em idosos) e as oncológicas para retirada de tumores, além de atendimentos a pacientes vítimas de acidentes e traumas agudos.


Caminho do sangue

No Hospital Mário Gatti, o sangue é fornecido por meio de um convênio com o Hemocentro da Unicamp. Já no Complexo Hospitalar Prefeito Edivaldo Orsi (Ouro Verde) o sangue é proveniente do  Centro de Hematologia e Hemoterapia Ltda.

No caso do Mário Gatti, especificamente, há um posto de coleta sob responsabilidade do Hemocentro da Unicamp, onde pessoas a partir dos 18 anos podem fazer doações de sangue.

Neste espaço, atualmente localizado no Hospital de Amor, 21.766 doadores foram registrados em 2024, uma média de 1.814 doadores mensais. No local é feita uma triagem dos doadores para saber se estão aptos para doarem sangue. Desse total, 18.559 bolsas coletadas – em média 1.550 por mês – seguiram para o Hemocentro para serem processadas e disponibilizadas para transfusão.

O Hemocentro da Unicamp é responsável por coletar, processar e distribuir os componentes do sangue para as agências transfusionais. Ele recolhe o material doado e faz o fracionamento do sangue, separando o concentrado de hemácias, o plasma e as plaquetas. Cada bolsa doada pode atender até três pacientes porque, dependendo de cada caso, o receptor pode precisar só da hemácia, às vezes só do plasma ou em outros casos somente da plaqueta. 

O Hemocentro realiza exames para garantir a segurança e qualidade do sangue, como testes sorológicos para hepatites, HIV e sífilis para garantir que o componente não tem nenhuma infecção, antes de liberá-lo para uso.

Crédito: Rede Mário Gatti de Urgência, Emergência e Hospitalar

Imagem mostra estoque de sangue em unidade de saúde

Agências transfusionais

A liberação do sangue doado leva de 24 a 28 horas, em média. A partir disso, os hospitais recebem os estoques nas agências transfusionais, onde o sangue é estocado, preparado, há tipagem, realização de testes de compatibilidade e aplicação de transfusões de sangue e componentes (hemocomponentes). 

Esses serviços estão nos hospitais e são responsáveis por garantir a segurança e qualidade do processo de transfusão para pacientes.  O Hemocentro da Unicamp fornece o estoque, que é reposto diariamente, conforme necessidade da demanda dos hospitais.

“Para encaminhar a doação a quem vai receber é feito um cruzamento entre uma amostra de sangue do receptor e outra do sangue de doação que a gente tem no estoque para preparar os componentes. Porque o sangue é preparado especificamente para a pessoa que vai recebê-lo. A tipagem simples leva cinco minutos, mas as provas cruzadas podem levar até 40 minutos”, explicou Solange Costa, hematologista, hemoterapeuta e responsável técnica pela Agência Transfusional do Hospital Mário Gatti.


Agência diferenciada

A Agência Transfusional do Hospital Mário Gatti possui um diferencial: uma equipe de enfermagem dedicada e disponível 24 horas para realizar a coleta de amostras sanguíneas e a instalação em caso de intercorrências. Ela é fundamental para garantir a segurança e a eficácia das transfusões, acompanhando de perto o paciente e intervindo prontamente em caso de eventuais reações. 

Segundo a enfermeira Priscila Margarida Gonçalves, a equipe de enfermagem é responsável pela coleta de amostras de sangue dos pacientes, um procedimento essencial para a realização de testes de compatibilidade e outros exames necessários antes da transfusão. “Os profissionais também atuam na instalação de bolsas de sangue e hemocomponentes, além de monitorar o paciente durante todo o processo para garantir que qualquer problema ou reação transfusional possa ser identificado e tratado imediatamente, minimizando riscos ao paciente”, explicou.

A enfermagem desempenha um papel crucial no acompanhamento do paciente durante a transfusão, verificando sinais vitais, observando reações adversas e intervindo rapidamente quando necessário. Tudo isso é imprescindível para garantir a segurança do usuário, seguindo protocolos e procedimentos rigorosos para evitar erros.

A equipe da Agência Transfusional do Hospital Mário Gatti também é formada por técnicos de bancada, coordenados por Raquel Dantas, biomédica do Hemocentro da Unicamp, e Carla Oliva, enfermeira gerente da UTI e do Banco de Sangue.

Já no Hospital Ouro Verde, o Centro de Hematologia e Hemoterapia Ltda é a empresa responsável pela Agência Transfusional da unidade. A profissional responsável é a hematologista Acacira Araújo Grilo.


Importância das campanhas

As campanhas para as doações nos bancos de sangue são constantes, já que em alguns momentos há um consumo maior por causa das demandas nos hospitais, como por exemplo: mais cirurgias, mais acidentes ou períodos do ano quando as doações costumam diminuir, como no frio e em feriados. Com isso, trata-se de um desafio para o Hemocentro manter estoque adequado.

Doar com regularidade, duas a três vezes por ano, é importante para os bancos de sangue. Esses doadores são chamados de repetição porque se tornam confiáveis, já que o sangue deles acaba sendo testado várias vezes. “A gente precisa que a população colabore sempre que puder, porque os pacientes estão sempre precisando de doações”, afirmou Solange Costa. 

O sangue dura estocado até 35 dias, enquanto que as plaquetas duram cinco dias. Já o plasma fresco congelado (PFC) dura até seis meses e, se não for usado, pode ser utilizado na indústria farmacêutica para a produção de hemoderivados.


Você sabia? 

No Brasil, os tipos de sangue mais comuns são o O e o A. Juntos, eles representam cerca de 87% da população. O tipo O positivo (O+) é o mais frequente, enquanto o A positivo (A+) é o segundo mais comum.  O tipo O negativo é doador universal, considerado raro e crucial em situações de emergência pois pode ser transfundido em qualquer pessoa, independente do tipo sanguíneo. 

Os tipos B e AB são menos comuns em comparação com os tipos A e O. Já o grupo sanguíneo AB é considerado “receptor universal” porque pessoas com esse tipo podem receber sangue de qualquer outro grupo. 

Crédito: Carlos Bassan/PMC

Imagem mostra equipamento no Mário Gatti para